domingo, 19 de outubro de 2008

O que é para mim o currículo ?

O termo currículo surge no vocabulário escolar a partir do momento em que a escolarização é transformada numa actividade organizada em função de interesses sociais, culturais, económicos e políticos.
Nesse sentido pode ser considerada uma operação de poder pois é determinada por alguém que define “o que os outros devem saber” condicionando a “realidade” actual e tentando conceber uma nova “realidade”.
Surge assim como um processo de especificação de objectivos, procedimentos e métodos para a obtenção de resultados educacionais escolhendo de um amplo universo de conhecimentos aqueles que se consideram os mais adequados para os objectivos a atingir, englobando os parâmetros institucionais de decisão e justificação do projecto educativo.
Podemos considerar também o currículo como instrumento de escolarização de natureza prática sendo um processo de representação, formação e transformação da vida social tentando sempre ajustar a relação teoria-prática.
Com o desenvolvimento das sociedades modernas e a presença cada vez maior do multiculturalismo, as escolas, da qual a Escola Secundária de Sacavém é um excelente exemplo, tornam-se palco de uma diversidade crescente, forçando assim a que as teorias mais tradicionais de currículo evoluam para uma forma também mais multicultural, não para criar guetos culturais mas sim de forma a integrar a diversidade de pontos de vista.
Esta evolução de currículo tal como eu a vejo, deve continuar a incluir a parte generalizável do currículo tradicional (como por exemplo a Língua Portuguesa e a Matemática) garantindo a todos o acesso a métodos e conhecimentos científicos que corresponderá a uma escolarização comum mas que será complementada com a diversidade de conhecimentos e experiências de cada um.
Isto implica que a instituição escola não pode continuar a depender exclusivamente de uma gestão externa imposta pelo Ministério da Educação, mas pelo contrário, fomentar processos de tomada de decisão participados pelo colectivo escolar, envolvendo toda a comunidade na gestão curricular local e construindo uma escola curricularmente inteligente.
Tudo isto leva-nos à questão: irá a escola multicultural impor a criação de currículos abertos?
Os passos dados até agora, apontam timidamente nesse sentido mas só o tempo e investigação sobre esta matéria poderão trazer-nos conclusões. No entanto já temos alguns exemplos de flexibilização de currículos e por exemplo os cursos de Educação e Formação já tentam adequar o currículo à população escolar específica destes cursos.
Uma coisa é certa, nada é definitivo e está tudo em aberto.

A minha visão do PTE sob a forma tradicional

As preocupações de organização e método estão intimamente ligadas às teorias tradicionais de currículo (David Hamilton) e surgem com a emergência deste campo profissional. Estas teorias tradicionais assentam na visão de escolarização de massas, propondo que a escola funcionasse como qualquer empresa comercial ou industrial (Bobbitt, 1918), especificando os resultados pretendidos, os métodos para os obter, a aplicação de formas de medida dos resultados e a análise de verificação se eles foram realmente obtidos. É um modelo claramente voltado para a economia onde a palavra-chave era “eficiência”.
À luz desta teoria de educador tradicional que se baseia num currículo tradicional, o primeiro impacto ao visualizarmos o Plano Tecnológico da Educação (PTE) é o de uma ruptura com o instituído, um salto qualitativo da escola que jamais será o que era até aqui. No entanto se analisarmos mais profundamente acabamos por perceber que as preocupações económicas e a eficiência pretendida por Bobbit, está subjacente ao plano.
O PTE aparece como um objectivo estratégico, completamente político, o de colocar Portugal entre os cinco países europeus mais avançados na modernização tecnológica do ensino, como se de uma corrida se tratasse.
As metas aparecem-nos todas quantitativas, perfeitamente definidas e decompostas em três eixos: tecnologia, conteúdos e formação.
Sem dúvida que podemos considerar que do ponto de vista da gestão de projectos, a um nível macro, ele está muito bem delineado e apresentado, com objectivos bem definidos e com um excelente Marketing a suportá-lo. Proporciona a universalização das TIC na escola através do apetrechamento com múltiplos equipamentos, permitindo simultaneamente o envolvimento de toda a comunidade na aquisição de competências nesta área. Fomenta a racionalização de recursos, através da criação de standards de utilização tais como portais e a Escola Simplex que vão permitir a partilha de recursos. Serão por ventura estes os pontos mais positivos do PTE na minha opinião.
Em contrapartida, podemos criticar o excessivo protagonismo dado à tecnologia em detrimento da sua integração com o currículo (actual ou futuro) não enquadrando os objectivos do plano com os objectivos gerais do ensino-aprendizagem. Também não é quantificado nem planificado o esforço necessário para a massificação da formação de milhares de professores, funcionários e alunos. Aliás nem se percebe bem porque aparece aqui a aquisição de competências TIC por parte dos alunos, visto isso fazer parte do currículo que eles têm de percorrer. Significará isto que o currículo se vai alterar por força do PTE ? Finalmente é no mínimo contra-procedente a excessiva politização do plano, pois isso pode criar sentimentos de rejeição e levar a que os principais actores do plano nem sequer estejam disponíveis para os aspectos positivos do mesmo.

O excesso de informação: uma óptica crítica

...ponto quanto a mim fundamental especialmente para nós que lidamos com este problema no dia-a-dia: da falta de informação passámos ao excesso de informação, muitas vezes errada, e que temos de saber filtrar e transmitir aos nossos alunos essa capacidade crítica e algumas ferramentas para saberem lidar com a situação. Tarefa nada fácil, mesmo para nós.
Pode-se perguntar: pesquisar na Internet tem a ver com tecnologia ou com cultura ? Precisamos de um choque tecnológico ou de um choque cultural como alguns defendem ? Pesquisar requer uma ciberliteracia, saber usar um motor de busca, e um capital cultural. Não vale a pena pesquisar se não se souber a diferença entre o escritor Voltaire e os Cabaret Voltaire (Miguel Gaspar, DN 2005).
Por isso quando se defende acérrimamente o que se está a passar em termos tecnológicos temos de ter algum cuidado. Não que eu discorde da bondade de avançarmos rapidamente no desenvolvimento tecnológico do País, mas de que nos serve toda esta pressa se continuamos a ter a esmagadora maioria dos professores das nossas escolas a socorrerem-se dos colegas das TIC para lhes ensinarem as mais rudimentares regras e a resolver uma infinidade de pequenos problemas como diz o Mário (ninguém nasce ensinado e a formação é sempre escassa) ou mesmo para ligar o videoprojector que teima em não trabalhar mesmo que a solução seja só ligá-lo à corrente ?
Estamos a avançar a duas velocidades; a tecnologia que é topo de gama e os recursos humanos que não têm ainda formação adequada para tirarem a rentabilidade que esta tecnologia lhes pode proporcionar.

Uma nova etapa

Após muitos anos dedicados ao ensino, tomei a decisão de reflectir e aprofundar a minha prática lectiva e investigar algumas das variáveis que todos os dias alteram esta equação complexa que é o ensino em Portugal.
Assim, eis-me inscrito e aceite no Mestrado de TIC e Educação da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa e aqui estou eu para aprender e partilhar tudo aquilo que me for possível nesta área.